domingo, 20 de março de 2011

Cisne Negro



Obsessão, loucura, fragilidade e ambição. Cisne Negro (Black Swan) narra de forma angustiante a busca da bailarina Nina Sayers (Natalie Portman) pela execução perfeita do papel principal do ballet “O Lago dos Cisnes”, de Piotr Ilitch Tchaikovsky. Nina deve interpretar os gêmeos Cisne Branco, símbolo da fragilidade e pureza, e Cisne Negro, representante da maldade, malícia e sedução.

Entretanto, Nina é uma garota retraída, frágil e perfeccionista. Consegue interpretar facilmente o Cisne Branco, mas não consegue encarar a forma do Cisne Negro, já que parece não possuir nenhuma de suas características. Porém, o papel é dado a ela pelo diretor Thomas Leroy (Vincent Cassel), que tem um deslumbre de que “garota frígida”, como ele mesmo a chama, pode ter algo mais escondido por dentro.

A dificuldade de Nina em interpretar o Cisne Negro se torna um verdadeiro suplício. Leroy se torna cada vez menos confiante quanto a sua escolha e cobra cada vez mais de Nina, humilhando-a e fazendo com que treine de forma muito dura. Ela, por sua vez, temendo perder o papel para outra garota do ballet, parte em busca da perfeição desenfreadamente, o que lhe custa um grande desgaste psicológico.

Nina tem de tirar o Cisne Negro de dentro de si. Ao longo do filme, ela mata sua sanidade e inocência e deixa, aos poucos, seu lado sensual e maligno nascer, até chegar em seu ponto mais intenso e se tornar o próprio Cisne Negro. Mas ela não chega lá sozinha. Deve enfrentar, com sua ambição descontrolada pelo papel principal, suas duas maiores rivais: a quase aposentada e brilhante Beth (Winona Ryder), a qual Nina sempre invejou e desejou tomar o lugar, e a novata Lily (Mila Kunis), uma garota sensual e maliciosa.

Através da disputa de Nina pela manutenção do papel principal, podemos ver sua evolução e degradação psicológica. Nina não se preocupa apenas com seu treino como bailarina, mas tenta sempre se reafirmar como a melhor e perfeita para o papel. Empurrada por Lily, a personificação do Cisne Negro (Lily já tem as asas negras nas costas), Nina aprende a liberar a própria sexualidade, a enfrentar a mãe super-protetora e chata, a deixar que seu lado obscuro comece a aparecer.

Mas junto com essas mudanças, o medo e a obsessão de Nina a levam para um verdadeiro pesadelo, onde ficção e realidade se confundem. A personagem começa a se confrontar com ela mesma, como os dois cisnes antagônicos da peça que lutam pela vitória.

O filme parece surpreendente, mas é, na verdade, bem previsível. Desde o começo, pode-se ter um vislumbre do fim, já que é repleto de pistas e se desenvolve em uma escala crescente. A personalidade de Nina, por exemplo, pode ser entendida através de seus pequenos furtos e tentativas de se tornar Beth. Sua coceira e apreensão descontroláveis também remetem a algo encarcerado pela auto-repreensão. Desde o começo, sabemos que existe um lado negro na personagem.

Cisne Negro é um filme angustiante. Darren Aronofsky consegue prender o espectador no desespero e apreensão de Nina, consegue enganá-lo e confundi-lo, deixá-lo sem entender a barreira tênue entre loucura e realidade. Algumas cenas, por exemplo, serão para sempre uma incógnita para o espectador, que nunca saberá se aconteceram realmente ou não.


Não é por acaso que Cisne Negro foi indicado ao Oscar e recebeu uma crítica bastante positiva. Elenco de peso, enredo envolvente e crescente, que chega em seu ápice nas cenas finais. E quem merece crédito também é Natalie Portman, com sua atuação fantástica, digna do Oscar de Melhor Atriz que recebeu.

Outros pontos altos do filme são a fotografia, os efeitos especiais (que não foram poucos, ainda mais quando se pensa nas cenas de ballet, quando a cabeça de Natalie Portman foi “colocada” no corpo de uma bailarina dublê) e as cenas maravilhosas de ballet.

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