quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A Longa História



Acabei de ler um livro que vale a pena resenhar. Vale a pena falar sobre, fazer ser lido, instigar a ser descoberto. O autor, Reinaldo Santos Neves, é amigo de um professor meu e creio, só por este motivo tive a história em minha minhas mãos. E que história! Quer dizer, A Longa História. E bota longa nisso!

Em primeiro lugar, devo deixar claro que a história se chama de Fábula. Sim, porque ela fala, se apresenta e quase diz: "Eu sou uma Fábula". E uma fábula que fala. Quero dizer, texto e autor se fundem e se transformam em um narrador que nada mais é do que as linhas do próprio texto. Uma história que narra a si mesma, como se fosse contada à noite para ouvintes silenciosos.

O heroi, personagem principal - mas não o mais interessate - é um monge copista medieval inocente, áustero e reclamão chamado Grim. Seu dever é atravessar campos e mares e mosteiros da Idade Média em busca de uma espantosa história, que uma louca e velha condessa precisa ouvir. Sua companhia: uma confraria de monges e cavaleiros, cada um com uma diferente história. E claro, uma donzela. Mas, diferentemente das donzelas tradicionais, uma moça nada casta e nem um pouco pura, uma prostituta incrivelmente habilidosa e inteligente : Lollia.

Grim, Lollia e a cofraria embarcam em uma viagem cheia de aventuras e mergulham o leitor em uma idade média tomada por lendas, contos, histórias e mais histórias. Cada passante, pedinte e peregrino que encontram possui sua própria história e se torna um novo autor da grande fábula.

O mais surpreendente, entretanto, é a meta-liguagem presente no livro. Uma longa história procura a outra. Ou seriam as duas uma só? E o que dizer sobre as grades ironias e sarcarmos de Reinaldo Santos Neves? E os preconceitos (em sua maioria religiosos) escancarados em forma de humor e, no fundo, denunciados, ironizados e superados?

A Longa História, apesar de realmente muito longa, é imperdível. Um livro bem humorado e inteligente (até demais, em alguma situações). Os personages são bem construídos e atraentes: Lollia, por exemplo, é uma personagem encantadora, com todos os seus paradoxos e simplicidades.

E, após ler uma obra dessas, tenho a mais absoluta certeza de que tem algo de muito errado com a literatura brasileira. Quer dizer, com o mercado literário. O acaso me levou à Longa História. Nosos autores precisam de mais visibilidade, de apoio. Ninguém merece depender do acaso. Merecem muito mais, porque são muito melhores que muitos enlatados comerciais que nos jogam goela abaixo.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Estrada Perdida

Tentar resenhar um filme de David Lynch é loucura. Mas talvez não seja uma empreitada com tão pouca lógica quanto seus próprios filmes - alguns são quase impossíveis de entender. Estrada Perdida (o nome em inglês soa bem melhor: Lost Highway) se encaixa perfeitamente ao padrão e pode deixar o espectador frustado com sua falta de sentido.

Não que seja um mal filme: prende do começo ao fim, talvez devido justamente ao labirinto que causa na mente de quem vê. Queremos descobrir mais, entender onde as coisas se encaixam - afinal, elas não parecem se encaixar de jeito nenhum.

O filme começa lento: o saxofonista Fred Madison (Bill Pullman) e sua mulher, Renee (Patricia Arquette) estão no meio de uma crise conjugal, pois Fred suspeita que está sendo traído. Até aí tudo bem. A história ganha um tom sombrio quando o casal começa a receber consecutivas fitas de video anônimas, filmadas em sua própria casa enquanto ambos dormem. O último vídeo mostra Fred assassinando brutalmente a própria esposa, ato de que não tem a menor consciência.

E é aí que o filme começa. Quer dizer, deveria começar. Quando Fred é preso e condenado à morte, começa a sentir estranhas dores até se transformar em outra pessoa. Sim, isso mesmo. O protagonista se transforma, dentro da cela, em um rapaz jovem que tem uma vida totalmente diferente. Quando o rapaz, Peter Raymond (Balthazar Getty) é solto, sob a vigilância de espantados policiais, apaixona-se por Alice, uma mulher quase idêntica a Reneee. E é aí que a trama realmente começa. Ou se perde, dependendo do ponto de vista.

A partir daí tudo fica sem sentido. O que foi construído se desfaz e apenas alguns nomes, semehanças e figuras servem para lembrarmos de que estamos na mesma história: a semelhança de Renee e Alice, que se mostram até mesmo em frases iguais; a presença constante do gângster Laurent (Robert Loggia) e de um homem misterioso e quase sobrenatural.


É difícil precisar, mas oO tema que começa a ser tratado pode ser o das identidades. Alice é Renee? Fred é Peter? Como diz o homem misterioso, em uma cabana ainda mais misteriosa: "Quem é você?". É uma pergunta que nunca é respondida.

No fim, apenas pode se dar crédito ao sobrenatural. Se assumirmos que a explicação para os bizarros acontecimentos não são racionais e pertecem a outra esfera, até podemos encontrar algum sentido. Essa teoria do sobrenatural é ainda mais assegurada pela trilha sonora sombria e muito adequada às situações, que criam aquele clima de suspense e deixam nervoso quem está assistindo.

Mas o grande mérito vai para as atuações. Patricia Arquette convence completamente nas duas personagens que atua - duas personagens bem pouco vestidas, por sinal. Bill Pullman, por sua vez, consegue uma atuação brilhante e realmente faz falta nas cenas em que é substituído. E até Merilyn Manson faz uma pontinha no filme...

Estrada Perdida é considerado por alguns uma das obras mais psicodélicas e sem sentido de David Lynch. Acho que concordo. Mas, se você estiver disposto a assumir que não precisa exatamente entender o que está acontecendo, garanto que poderá gostar.





sexta-feira, 24 de junho de 2011

A Garota da Capa Vermelha


Catherine Hardwicke não fugiu à regra. Seguindo as medidas da saga Crepúsculo, fez um filme para adolescentes com paixões mornas, triângulos amorosos, pessoas bonitas e roteiro simples. A Garota da Capa Vermelha (Red Riding Hood), figura como uma versão teen, com um leve ar de suspense, do clássico Chapeuzinho Vermelho.

A história se passa em uma vila da Idade Média atormentada por um lobo que exigia sacrifícios de animais nas noites de lua cheia. O acordo com a fera garantia a segurança do local, até o momento em que uma garota é assassinada. Valerie (Amanda Seyfried), irmã da vítima, vê então toda sua aldeia tomada pelo pânico causado pelos consecutivos ataques do lobo. Estranhamente, Valerie consegue entender o que o monstro "fala" e descobre que é diferente de todas as pessoas do local.

Lado a lado com os acontecimentos, Valerie tem de lidar com o acordo de casamento com o rico ferreiro Henry (Max Irons), a tentativa de continuar com o namorado Peter (Shiloh Fernandez) e as descobertas dos segredos da mãe (Virginia Madsen) e da irmã. Tudo isso ao mesmo tempo em que começa a enxergar a figura de um lobo em todos os olhos castanhos que encontra pela frente.

O ar de suspense é assegurado justamente pela desconfiança de Valerie, pelo clima de "quem será o assassino?" que a trama toma aos poucos. As cores escuras e o predominante vermelho ajudam a deixar o cenário propício para ataques sobrenaturais.

Apesar disso, não há nada de muito especial no roteiro. O suspense leve se torna, em alguns momentos, ridículo. O próprio clima de desconfiança chega a irritar o espectador, de tão repetitivo. Algumas cenas são simplesmente desnecessárias e forçadas, como quando Valerie sonha com a avó e faz as perguntas clássicas de Chapeuzinho Vermelho: "Que olhos grandes você tem"... e por aí vai.

E falando em Chapeuzinho Vermelho, a adaptação foi bastante fraca. Tirando o cenário e o figurino,a casa da vovó na floresta e o lenhador, pouco da essência do conto foi captada. A mensagem oculta da sensualidade e da figura do lobo que na verdade é um "pedófilo", foi totalmente reduzida a algumas cenas sensuais mornas e adolescentes, pouco ligadas ao verdadeiro significado da história original. Muito mais poderia ser esperado de uma adaptação desse conto de fadas.

Mas A Garota da Capa Vermelha não perde em todos os aspectos. A fotografgia é simplesmente maravilhosa e as câmeras se mostram bastante flexíveis e até alternativas. O jogo de cores também é bastante significativo e dá um tom um pouco surreal às imagens.

E, no fim das contas (para contradizer o que foi dito, talvez), A Garota da Capa Vermelha consegue prender o espectador. Não é um filme para se pensar, não traz qualquer mensagem e não deixa nada marcado na cabeça depois. Mas, quem disse que deveria ser assim?

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Um beijo roubado


É claro que perder quem se ama é complicado. Mas ficar para sempre lamentando perdas apenas leva à autodestruição e à tragédia. Essa é a mensagem escancarada em "Um beijo roubado" (Blueberry Nights), de 2007.

O filme traz Norah Jones como Elizabeth, uma garota que descobre em um bar que estava sendo traída. Sem coragem de deixar o bar, acaba bebendo todas, comendo algumas tortas de mirtilo (blueberry pie) e se apaixoando pelo dono do bar, Jeremy (Jude Law), que divide com ela sua história e as próprias decepções. Mas, para seguir em frente com sua vida e se superar, Elizabeth resolve viajar sem um rumo definido, descobrindo no caminho personagens que lhe ensinarão que mágoas não podem trazer nada de bom.

Um beijo roubado não é exatamente um filme profundo. Apesar de abordar a questão da efemeridade das relações, do modo como as dificuldades no relacionamento com o próximo podem afetar as pessoas, o faz de forma fragmentada. O enredo, além disso, é fraco e, não fosse um pouco da maestria do diretor chinês Wong Kar Wai, poderia passar por um filme de sessão de sessão da tarde.

Mas, nem por isso a obra deixa de ser bonita, interesante. As câmeras alternativas e as diferentes visões do diretor trazem imagens lindas e bem elaboradas que, ao mesmo tempo em que vislumbram o espectador, podem cansar e tornar o filme morno. Como a maioria das cenas se passam à noite e dentro de bares, as cores escuras e o vermelho, junto ao neon e às placas brilhantes transformam as cenas e dão-lhes um tom quase sensual.


E, apesar de contar com um elenco de peso hoolywoodiano, como Natalie Portman, Jude Law e David Strathairn, o crédito vai para cantoras: Norah Jones e Cat Power. Norah atua de forma brilhante, encarando bem a protagonista insegura e desiludida. Cat Power, por sua vez, surpreende com sua pequena aparição e embala as cenas do bar de Jude Law com sua canção "The Greatest".

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Tudo pode dar certo


Tudo pode dar certo (Whatever works) é um filme leve e ao, ao mesmo tempo, profundo. Não que seja pretencioso e queira passar uma grande mensagem de forma sutil. Não. Parece, na verdade, um desabafo de Woody Allen: na pele de Boris Yelnikoff (Larry David), o diretor critica o amor, a sociedade, a indústria cultural e tudo que possa ser criticado.

Boris Yelnikoff, um velho "gênio" chato e de mal com a vida, que foi indicado ao Prêmio Nobel, sabe que é protagosnista de um filme e diz logo no começo que está em uma tela, sendo visto por várias pessoas que provavelmente comem pipoca. Por isso, o personagem sempre conversa diretamente com o telespectador, narrando sua vida e expondo seus arrogantes pontos de vista.

Através das narrações do "gênio", conhecemos a doce e burra Melodie (Evan Rachel Wood), que com toda a sua ingenuidade e falta de conhecimentos, é a única capaz de aproximar Boris da humanidade e fazer com que sinta, de alguma forma, amor. O relacionamento inusitado da jovem Melodie e Boris é, na verdade, um ponto conflituoso para o telespectador, que pode sentir dificuldades em aceitar as diferenças entre os dois.

E aceitar diferenças é um dos principais temas tratados no filme. A diferença de idade, humor e mentalidade entre os protagonistas é a primeira diferença que somos desafiados a aceitar. Depois, os pais de Melodie, personificações do preconceito e da sociedade hipócrita burguesa religiosa, são os principais exemplos da libertação e da aceitação das próprias diferenças.

Através de personagens caricatos e humor inteligente, Woody Allen prende o espectador em uma trama leve (e nem por isso simples), que usa de clichês para desconstruí-los e de sarcasmo para críticas inteligentes. E, no fim, concordamos inteiramente com a mensagem: qualquer coisa que funcione, serve.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Cem anos de solidão


Gabriel Garcia Márquez brinca de Deus. Cria um mundo novo, personificado e enclausurado em um pequeno povoado fictício, que segue regras próprias, em uma realidade alheia e ao mesmo tempo, universalizada. E, junto ao seu novo pequeno mundo, Macondo, Márquez narra a saga de cem anos da família de seu fundador, José Arcádio Bundía. Família essa, nas palavras do próprio autor, que representa uma "estirpe condenada a cem anos de solidão".

Tudo é narrado de forma extremamente natural, inclusive as coisas mais fantásticas e impossíveis. Não é à toa que a obra é uma referência em realismo mágico: ninguém se assusta com tapetes voadores, homens que fazem guerras 52 vezes e não se machucam, fantasmas que continuam amigos dos vivos e estão sempre rondando por aí. Por isso mesmo, parece certa - e até justa - a idéia que paira presente desde o início: quem casa com parente tem filho com rabo de porco.

E é essa supertição a alavanca de toda a história. José Arcádio Buendía e sua prima, Úrsula, se casam. Preocupada em ter um filho com rabo de porco, Úrsula se recusa a dormir com o marido, que após dois anos sem conseguir consumar o casamento, se torna motivo de chachota em sua cidade. José Arcádio Buendía acaba, assim, matando um homem que o caçoava e abandona a cidade, atormentado pelo fantasma do assassinado.

Mas José Arcadío Buendía não vai embora sozinho e é acompanhado por vários amigos. Após se perder em terras desconhecidas e fracassar na tentativa de chegar ao mar, o grupo resolve fundar um povoado: Macondo. É em Macondo que irá se desenvolver a linhagem dos Buendía, que tem o destino irremediavelmente ligada à cidade.

Após o nascimento dos três filhos de Úrsula e José Arcádio Buendía, uma entricada teia começa a se desenvolver. Todos tem uma verdadeira vocação para a auto-destruição e para paixões desenfreadas. José Arcádio, Aureliano e Amaranta, os filhos do casal, somados à filha adotiva Rebecca, irão marcar a família, deixando em seus descendentes vícios, supertições, ódios, rancores e a terrível mania de se apaixonar loucamente, inclusive por parentes.

A família que nasce na casa do Buendía é a mais confusa possível. Entre as inúmeras mortes e os multiplicados nascimentos, a família chega a seu apogeu e cai na mais profunda miséria, em compasso com o destino de Macondo. E, em todas as gerações, a fatalidade do destino resolve sempre repetir vícios e hábitos, levando sempre a um grande mal.

Além disso, algo que salta aos olhos é a estranha mania de repetir nomes. Praticamente todos os descendentes recebem o nome de seus antepassados José Arcadio e Aureliano, o que causa repetição de tragédias que, apesar de se repetirem, nunca são iguais.

Úrsula, personagem mais importante e velha da história, norteia o leitor nos mais de cem anos de páginas e o ensina a decorar os vícios dos Buendía. Como única alma com senso, marca todas as gerações e seu fim represennta o maior mau agouro da obra.

Mas os cem anos, as inúmeras gerações e indas e vindas de personagens, ao contrário do que possa parecer, não causam sono ao leitor. Todos os personagens são tão fortes e bem construídos e todos os enredos complexos fluem de forma tão natural, que o livro se torna uma leitura gostosa e simples. E apesar de tantos Aurelianos e José Arcádios diferentes, têm-se a impressão de que todos são um só - e isso pode explicar a familiaridade que sentimos com cada um.

Gabriel Garcia Márquez mereceu o Prêmio Nobel de Literatura, que recebeu em 1982. Criou uma história que ultrapassa a realidade e entra em outra dimensão; e que, ao mesmo tempo, trata da realidade dos países de colonização espanhola. Confundindo realidade com ficção e ficção com magia, o autor consegue criar outro mundo, cheio de significados e lições escondidas.

domingo, 20 de março de 2011

Cisne Negro



Obsessão, loucura, fragilidade e ambição. Cisne Negro (Black Swan) narra de forma angustiante a busca da bailarina Nina Sayers (Natalie Portman) pela execução perfeita do papel principal do ballet “O Lago dos Cisnes”, de Piotr Ilitch Tchaikovsky. Nina deve interpretar os gêmeos Cisne Branco, símbolo da fragilidade e pureza, e Cisne Negro, representante da maldade, malícia e sedução.

Entretanto, Nina é uma garota retraída, frágil e perfeccionista. Consegue interpretar facilmente o Cisne Branco, mas não consegue encarar a forma do Cisne Negro, já que parece não possuir nenhuma de suas características. Porém, o papel é dado a ela pelo diretor Thomas Leroy (Vincent Cassel), que tem um deslumbre de que “garota frígida”, como ele mesmo a chama, pode ter algo mais escondido por dentro.

A dificuldade de Nina em interpretar o Cisne Negro se torna um verdadeiro suplício. Leroy se torna cada vez menos confiante quanto a sua escolha e cobra cada vez mais de Nina, humilhando-a e fazendo com que treine de forma muito dura. Ela, por sua vez, temendo perder o papel para outra garota do ballet, parte em busca da perfeição desenfreadamente, o que lhe custa um grande desgaste psicológico.

Nina tem de tirar o Cisne Negro de dentro de si. Ao longo do filme, ela mata sua sanidade e inocência e deixa, aos poucos, seu lado sensual e maligno nascer, até chegar em seu ponto mais intenso e se tornar o próprio Cisne Negro. Mas ela não chega lá sozinha. Deve enfrentar, com sua ambição descontrolada pelo papel principal, suas duas maiores rivais: a quase aposentada e brilhante Beth (Winona Ryder), a qual Nina sempre invejou e desejou tomar o lugar, e a novata Lily (Mila Kunis), uma garota sensual e maliciosa.

Através da disputa de Nina pela manutenção do papel principal, podemos ver sua evolução e degradação psicológica. Nina não se preocupa apenas com seu treino como bailarina, mas tenta sempre se reafirmar como a melhor e perfeita para o papel. Empurrada por Lily, a personificação do Cisne Negro (Lily já tem as asas negras nas costas), Nina aprende a liberar a própria sexualidade, a enfrentar a mãe super-protetora e chata, a deixar que seu lado obscuro comece a aparecer.

Mas junto com essas mudanças, o medo e a obsessão de Nina a levam para um verdadeiro pesadelo, onde ficção e realidade se confundem. A personagem começa a se confrontar com ela mesma, como os dois cisnes antagônicos da peça que lutam pela vitória.

O filme parece surpreendente, mas é, na verdade, bem previsível. Desde o começo, pode-se ter um vislumbre do fim, já que é repleto de pistas e se desenvolve em uma escala crescente. A personalidade de Nina, por exemplo, pode ser entendida através de seus pequenos furtos e tentativas de se tornar Beth. Sua coceira e apreensão descontroláveis também remetem a algo encarcerado pela auto-repreensão. Desde o começo, sabemos que existe um lado negro na personagem.

Cisne Negro é um filme angustiante. Darren Aronofsky consegue prender o espectador no desespero e apreensão de Nina, consegue enganá-lo e confundi-lo, deixá-lo sem entender a barreira tênue entre loucura e realidade. Algumas cenas, por exemplo, serão para sempre uma incógnita para o espectador, que nunca saberá se aconteceram realmente ou não.


Não é por acaso que Cisne Negro foi indicado ao Oscar e recebeu uma crítica bastante positiva. Elenco de peso, enredo envolvente e crescente, que chega em seu ápice nas cenas finais. E quem merece crédito também é Natalie Portman, com sua atuação fantástica, digna do Oscar de Melhor Atriz que recebeu.

Outros pontos altos do filme são a fotografia, os efeitos especiais (que não foram poucos, ainda mais quando se pensa nas cenas de ballet, quando a cabeça de Natalie Portman foi “colocada” no corpo de uma bailarina dublê) e as cenas maravilhosas de ballet.