sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Estrada Perdida

Tentar resenhar um filme de David Lynch é loucura. Mas talvez não seja uma empreitada com tão pouca lógica quanto seus próprios filmes - alguns são quase impossíveis de entender. Estrada Perdida (o nome em inglês soa bem melhor: Lost Highway) se encaixa perfeitamente ao padrão e pode deixar o espectador frustado com sua falta de sentido.

Não que seja um mal filme: prende do começo ao fim, talvez devido justamente ao labirinto que causa na mente de quem vê. Queremos descobrir mais, entender onde as coisas se encaixam - afinal, elas não parecem se encaixar de jeito nenhum.

O filme começa lento: o saxofonista Fred Madison (Bill Pullman) e sua mulher, Renee (Patricia Arquette) estão no meio de uma crise conjugal, pois Fred suspeita que está sendo traído. Até aí tudo bem. A história ganha um tom sombrio quando o casal começa a receber consecutivas fitas de video anônimas, filmadas em sua própria casa enquanto ambos dormem. O último vídeo mostra Fred assassinando brutalmente a própria esposa, ato de que não tem a menor consciência.

E é aí que o filme começa. Quer dizer, deveria começar. Quando Fred é preso e condenado à morte, começa a sentir estranhas dores até se transformar em outra pessoa. Sim, isso mesmo. O protagonista se transforma, dentro da cela, em um rapaz jovem que tem uma vida totalmente diferente. Quando o rapaz, Peter Raymond (Balthazar Getty) é solto, sob a vigilância de espantados policiais, apaixona-se por Alice, uma mulher quase idêntica a Reneee. E é aí que a trama realmente começa. Ou se perde, dependendo do ponto de vista.

A partir daí tudo fica sem sentido. O que foi construído se desfaz e apenas alguns nomes, semehanças e figuras servem para lembrarmos de que estamos na mesma história: a semelhança de Renee e Alice, que se mostram até mesmo em frases iguais; a presença constante do gângster Laurent (Robert Loggia) e de um homem misterioso e quase sobrenatural.


É difícil precisar, mas oO tema que começa a ser tratado pode ser o das identidades. Alice é Renee? Fred é Peter? Como diz o homem misterioso, em uma cabana ainda mais misteriosa: "Quem é você?". É uma pergunta que nunca é respondida.

No fim, apenas pode se dar crédito ao sobrenatural. Se assumirmos que a explicação para os bizarros acontecimentos não são racionais e pertecem a outra esfera, até podemos encontrar algum sentido. Essa teoria do sobrenatural é ainda mais assegurada pela trilha sonora sombria e muito adequada às situações, que criam aquele clima de suspense e deixam nervoso quem está assistindo.

Mas o grande mérito vai para as atuações. Patricia Arquette convence completamente nas duas personagens que atua - duas personagens bem pouco vestidas, por sinal. Bill Pullman, por sua vez, consegue uma atuação brilhante e realmente faz falta nas cenas em que é substituído. E até Merilyn Manson faz uma pontinha no filme...

Estrada Perdida é considerado por alguns uma das obras mais psicodélicas e sem sentido de David Lynch. Acho que concordo. Mas, se você estiver disposto a assumir que não precisa exatamente entender o que está acontecendo, garanto que poderá gostar.





Nenhum comentário:

Postar um comentário